quinta-feira, janeiro 25, 2007

Estudas Medicina quando:

“Estudas medicina quando:
− toda a gente te pergunta com horror e expectativa se 'já viste um morto', sem importar o ano em que estás;
− os amigos dos teus pais identificam-te como 'aquele que estuda medicina' em vez de te tratarem pelo teu nome;
− todos os amigos e familiares te vêm pedir conselhos e ajuda quando alguma coisa lhes dói - mesmo que seja o teu primeiro dia, do teu primeiro ano;
− respondes aos convites dos teus amigos com um 'não posso, tenho que estudar' ou um 'não posso, tenho banco';
− amanhece sem te teres deitado - e não é por teres andado acurtir as discos \o/;
− não importa o muito que estudes, cada vez sentes que te falta saber mais e mais;
− se vais passar um fim de semana fora, levas mais livros que roupa na mala;
− esperas com ansiedade o fim de semana, para poderes estudar o que não conseguiste durante a semana;
− estás mais familiarizado com os apelidos Rouvière, Harrison, Guyton, Robbins, Netter, etc, do que com os apelidos dos teus colegas de curso;
− demoras pelo menos um minuto a responder à pergunta ' quanto dura o teu curso?';
− sentes que todos os teus colegas de secundário estão em cursos mais fáceis que o teu;
− questionas-te frequentemente com que idade acabarás por te casar ou terfilhos;
− puseste várias vezes a hipotése de mudar de curso, paracomunicação ou turismo;
− estás certo que 80 % dos teus colegas se casarão com uma enfermeira e que 80 % das tuas colegas simplesmente não se casarão;
− sentes que não restam coisas no mundo que te possam fazer asco;
− descobres que não podes comer com os teus companheiros de curso sem, inevitavelmente, acabarem a falar de temas médicos;
− te sentes menos se o teu estetoscópio não é 'Littmann';
− entendes automaticamente o significado de siglas como HTA, DPOC, EPO, IL-2 ou EAM;
− não te doem os músculos - tens mialgias - nem tens sede ou fome - tens polidipsia e polifagia;
− uma pessoa não está deitada de barriga para cima, e sim em decúbito dorsal;
− eliminaste do teu léxico o sufixo 'logia' e te limitas a dizer 'morfo', 'micro', 'fisio', 'pato', 'semio', 'cardio', 'embrio', ...;
− tomas mais café que água, por dia;
− estranhas os dias em que conseguias saber o que se passava com a actualidade nacional;
− apercebes-te que começou uma guerra, precisamente após esta ter terminado;
− cada vez que comes ou bebes algo, reparas na composição, calorias e vitaminas;
− tratas de recordar todos os dias a razão pela qual entraste em medicina, e se não a encontras consolas-te a pensar no tempo que falta para te licenciares

hihihi

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Semana estranha

Esta semana foi estranha: por um lado tive menos trabalho, por outro tive muito mais!

No Hospital, houve menos trabalho (não que haja menos doentes!!) porque entraram os novos IAC (internos de ano complementar) - que, por despacho do Ministério, foram colocados no fim da semana passada, com opção de negociar com o hospital de destino a data de início... Como foi mais gente para trabalhar, menos sobrou para mim!

Por outro lado, esta semana foi a entrega de histórias clínicas, para avaliação. Cada uma com cerca de 25 páginas, dá para imaginar o trabalho... Ao mesmo tempo, tive as apresentações de casos clínicos durante a tarde, na faculdade.

Sobrou pouco tempo para estudar e para viver....

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Quem quer doar medula óssea??

A propósito da notícia de hoje no Telejornal da RTP1, onde se dizia que o número de dadores de medula óssea aumentou exponencialmente nos últimos 3 anos (sendo hoje cerca de 64.000), deixo aqui o meu testemunho de quando me inscrevi, acerca de 2 anos atrás. Foi um email que mandei a todos os meus amigos/conhecidos. Espero que sirva para incentivar mais alguém...

"Olá a todos.
Hoje de tarde, fui-me inscrever como dador de medula óssea. Tinha medo - apesar de ser estudante de Medicina, tenho ódio às agulhas.. uma fobia ainda não resolvida, que estou a tentar ultrapassar.
Há uns tempos atrás, lembro-me de ver um programa na televisão, acerca das muitas doenças em que a única cura é o transplante de medula.
Pensei: "também eu posso ser dador!".. mas tal não aconteceu. Por preguiça, por falta de informação, por algum receio também.
Por isso escrevo este email, para informar todos os interessados, como é fácil, indolor, e como pode eventualmente salvar uma vida.
Tudo o que é preciso fazer, é dirigir-se ao centro de histocompatibilidade (no meu caso do Norte) - que é dentro do recinto do Hospital S. João. A forma mais fácil de lá chegar, para quem conhece, é pela porta ao lado da entrada da FEUP (do outro lado da rua, claro), e perguntar ao segurança da entrada - não há que enganar.
Uma vez lá, é tão simples como escrever um pequeno questionário com dados pessoais, história de doenças prévias, e pouco mais. Para ser dador é necessário ter peso superior a 50 Kg, e idade compreendida entre os 18 e 48 anos.
A seguir, é feita uma colheita de sangue de 2 frasquinhos de 9 mL (o que demora 30 segundos).. e pronto. Já está.
Esse sangue vai servir para fazer uma tipagem do HLA do dador (é um grupo de antigénios muito específico que temos nas células do sangue, e que são responsáveis pela rejeição dos transplantes).
Depois, esses dados são adicionados a uma grande base internacional, com informação de todos os dadores mundiais. Até aqui não acontece mais nada.
Se eventualmente for detectado algum potencial receptor (em qualquer parte do mundo), somos contactados para uma nova colheita de sangue, para fazer testes mais profundos à compatibilidade, e caso esta seja comprovada e aceitarmos ser dadores, o processo de colheita de medula é muito simples (funciona mais ou menos como a hemodiálise): ficamos ligados a uma máquina durante algum tempo, que faz uma espécie de filtragem, onde retira do nosso sangue as células que serão depois transplantadas. É um processo inócuo, sem necessidade de anestesia. Podemos ficar a ver televisão, ou à conversa com as simpáticas enfermeiras ;)
Importa também referir que, se a dada altura do processo não se estiver 100% seguro, pode-se sempre desistir sem que haja algum tipo de recriminação ou falta de compreensão. A decisão cabe única e exclusivamente ao dador.
Pode aparecer um receptor amanhã, daqui a um mês, um ano, ou até nunca aparecer. Mas é uma forma muito simples de se poder salvar alguém. Passei este ano pelo serviço de Hematologia durante o meu curso, e acreditem que as doenças hematológicas (como as leucemias e linfomas) são doenças muito agressivas com tratamentos dolorosos... algo que o transplante de medula não é.
Espero ter sido claro, e peço desculpa pela extensão.
Um abraço amigo
29/11/2004"

Mais informações:

Portal da Saúde

Centro de Histocompatibilidade do Norte
Rua Dr. Roberto Frias, Pavilhão "Maria Fernanda"
4200-467 Porto
Tel: (+351) 225 573 470
Fax: (+351) 225 501 101
E-mail: administ@chn.pt

Centro de Histocompatibilidade do Sul

Felizmente não durou muito tempo...

"A unidade de transplantes hepáticos pediátricos de Coimbra já está de novo a funcionar, não sendo então necessário evacuar as crianças para o estrangeiro."

in Renascença

Nova fonte de células estaminais

Uma equipa de cientistas descobriu que é possível utilizar células estaminais presentes no liquido amniótico (o líquido que está dentro da "bolsa de águas" de uma grávida) para criar vários tipos de tecido. É um grande avanço porque não tem o problema ético do uso de embriões excedentários para obtenção de células semelhantes, e tem poucos riscos para a mãe e para o bebé (obtém-se por amniocentese - o mesmo procedimento efectuado para diagnosticar algumas doenças no bebé).

Notícia completa aqui, e a opinião do Prof. Manuel Sobrinho Simões aqui.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

3 doentes, 3 corações

De manhã estive a ver 3 doentes, mais ou menos sozinho (a minha tutora teve de se ausentar). Apercebi-me que, como a maior parte dos doentes que vêm parar à minha ala, têm patologia cardíaca. Realmente, as estatísticas confirmam-se: as doenças cardiovasculares são a primeira causa de morte em Portugal... e é uma pena, porque são relativamente fáceis de prevenir: dieta equilibrada, exercício físico e não fumar - são o essencial para manter um coração a bater de forma saudável... (mais informações aqui e aqui. Aqui podem fazer download do Programa Nacional de Prevenção e Controlo das Doenças Cardiovasculares).

Médicos e o aborto

"Mais de uma centena de médicos prepara-se para constituir um movimento de clínicos favor do “não” no referendo sobre o aborto.

Chama-se 'Somos médicos por isso não' e está já a recolher assinaturas junto aos profissionais de todo o país.

Roberto Roncon explica que o objectivo é comprometer os médicos com a defesa da vida.

“É um movimento de médicos que vai ter uma dinâmica de recolha de assinaturas uma vez que temos a percepção que a maioria dos médicos é, de facto, contra a liberalização total do aborto e, por outro lado, vamos convergir para uma acção nacional no dia 27 de Janeiro onde iremos fazer uma apresentação com figuras de referência sobre aquilo que para nós é a defesa da vida”, disse.

Este médico acrescenta que “para nós a medicina deve ser sempre feita em defesa da vida”."

in Renascença - Música e Informação Dia a Dia

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Princípio do ano animado

O ano começou bem, com muito trabalho :) e muita animação, cortesia do Ministério da Saúde...
Hoje também foi uma manhã atarefada - ajudei a passar visita e redigi duas notas de alta. Ao mesmo tempo fui assistindo uma nova interna de oncologia, que entrou esta semana para o serviço... nos primeiros dias não se consegue fazer nada: o sistema é novo, não sabe onde estão as coisas (desde as luvas para a gasimetria, às requisições de análises, até à cafetaria para aumentar o rendimento!)

Do lado dos recém-licenciados, continua a luta (pouco falada na comunicação social) pela organização do denominado "ano-comum". É o ano que (em conjunto com o 6º ano profissionalizante) vem substituir o antigo Internato Geral. Há alguns problemas:
- a lista de colocações era suposto ter saído antes do ano novo, uma vez que o início desse "internato" seria no dia 2 de Janeiro. O problema é que a lista saiu, mas com tantos erros que foi imediatamente revogada.
- a colocação é determinada pela média de curso, e a escolha é feita pelos candidatos, que elaboram uma lista com 20 hospitais, de acordo com a sua preferência. Tendo em conta que o curso acabou em Julho (dando o desconto de épocas especiais até Outubro), como se admite que a lista ainda não tenha saído? Cheira-me a alguma incompetência...

Preocupo-me não só pelos meus colegas que não foram colocados (que têm assim umas férias forçadas), que já tinham alugado habitação (como não trabalham, não vão ter remuneração para pagar esses alugueres), mas também pelo meu ano - o que será que vai acontecer quando for a nossa vez?

Drama no HPH e outras aventuras

Mais um dia no HPH. Hoje como a minha tutora não estava disponível, andei meio sozinho pela enfermaria a fazer umas histórias.. Falei com um senhor que teve um linfoma não-Hodgkin há 2 anos atrás, teve recidiva agora e, azar dos azares fez uma reacção adversa a um antibiótico ficando com uma hepatite grave... Por vezes o sofrimento parece ser cínico...

No hospital anda um grande alvoroço por causa do recém instalado sistema de controle de assiduidade através de dados biométricos (i.e. impressões digitais). Lá as opiniões dividem-se: há os que são contra porque pensam que é uma humilhação, os que são contra porque têm medo de terem os dados biométricos armazenados no computador e os que são contra... enfim, porque assim vão mesmo que passar aquelas horas todas no hospital. Por outro lado, há os que estão a favor, que acham que uns não têm de fazer o trabalho dos outros, mas estão apreensivos: se passam mais horas no hospital do que as que lhes são pagas, será que vão receber horas extra??

A minha humilde opinião é favorável, apesar de infantilizar um bocado todo o pessoal hositalar. Quem não deve não teme, e quem trabalha não está preocupado se vão controlar o horário laboral ou não. A mim o que me preocupa é: será que o tiro não vai sair pela culatra do Ministério, e vão perceber que grande parte do pessoal faz horas extra?? E se sim, o Ministro estará disposto a pagar essas horas extra? Será que os Médicos não vão simplesmente embora quando o horário tiver terminado?

São só alguns pontos para reflectir... mas que a decisão do Ministro da Saúde está tomada, ah isso está...

Tunes