quinta-feira, janeiro 05, 2006

Dia 4

Dia 4

Hoje fui para o bloco cirúrgico.
Vi duas colecistectomias (remoção da vesícula biliar). Estava com mais uma colega na sala, que o cirurgião convidou para ajudar. Fiquei triste por não ser eu, mas na minha faculdade é sempre assim – nunca dá para todos.
Eu, antes de entrar para a Faculdade de Medicina era dos que achava: “vagas? quantas mais melhor!” “se são precisos médicos, formam-se mais!”. Hoje sou vítima dessas próprias afirmações – o aumento do numerus clausus levou a uma inevitável deterioração do ensino, em primeira instância por falta de recursos. Como é que uma instituição criada para receber cerca de 100 alunos/ano pode abarcar o mais do dobro?
Sofro eu hoje, sofrerão os doentes amanhã? Espero que não.

Depois disso tive uma aula teórica sobre tumores hepáticos. Discutia-se “deprimem-me os tratamentos paliativos – é desesperante não ter mais nada para oferecer ao doente”, ao que o professor respondeu “eu na tua idade também pensava assim – tenho 60 anos de vida pela frente, 6 meses não é nada. Mas acredita que dar mais 6 meses de vida a uma pessoa que só espera ter 2,  é triplicar-lhe a esperança de vida (sobretudo se for com qualidade).” Fiquei pensativo – então afinal o paliativo pode ser muito bom…

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